COPA SUL-AMERICANA

Análise: Inter vai da confiança à tensão em novo fracasso e dá adeus a sonho de título no ano

Análise: Inter vai da confiança à tensão em novo fracasso e dá adeus a sonho de título no ano

Colorado empata por 0 a 0, desperdiça três pênaltis e dá adeus ao sonho do titulo continental. Vestiário é marcado por choro dos jogadores. Torcida aponta Taison e Edenilson como vilões

Porto Alegre - A noite de 11 de agosto simbolizou o fim da esperança de títulos para o Inter em 2022. O sonho foi substituído por frustração, vaias e xingamentos. A torcida elegeu Edenilson e Taison como culpados pela eliminação para o Melgar e apontou mais um vexame na temporada. A derrota nos pênaltis causou desolação e choro no vestiário colorado do Beira-Rio, enquanto no lado de fora o tom era de cobrança.

A eliminação para os peruanos, após empate por 0 a 0 e revés por 3 a 1 nas penalidades, se une ao 2 a 0 sofrido para o Globo-RN na primeira fase da Copa do Brasil e ao 3 a 0 para o Grêmio, em pleno Beira-Rio, nas semifinais do Gauchão. São três vexames em um intervalo de 162 dias. Sobrou apenas o Brasileirão. Em um cenário realista, a briga será por vaga na Libertadores.

A camisa pede títulos. Sinto bastante isso, é a coisa que mais me pesa, não tem como negar. Estou aqui para assumir a responsabilidade, sei que vou ser cobrado e vou trabalhar para que a gente possa brigar pelo Brasileirão.

— Edenilson

Eliminação em campo

Os dois tempos do empate foram distintos. Na etapa inicial, imposição, chances de gol e boas atuações individuais. No segundo tempo, pouco futebol, ares de tensão e erros nas cobranças.

A bola na rede parecia questão de tempo quando o jogo iniciou. Braian Romero, logo aos 20 segundos, desperdiçou uma chance de ouro cara a cara com Cáceda. Minutos depois, não conseguiu empurrar a bola para rede, após jogada de Wanderson pelo flanco esquerdo.

O substituto de Alemão ainda participaria de outros dois momentos importantes. Bom cabeceio para intervenção do goleiro e cruzamento para o gol bem anulado de Edenilson. Outras situações foram criadas, mas faltou eficiência. Foram 10 finalizações e nove escanteios nos 45 minutos iniciais.

A etapa complementar foi totalmente diferente. O Inter voltou pior, e o Melgar se fechou melhor. O Colorado assustou duas vezes em sete minutos nos chutes de Wanderson e Bustos e parou por aí. O desenrolar da partida deixou o ambiente nervoso.

Mano apostou em Taison no lugar de Alan Patrick aos 20 minutos, mas não funcionou. O meia-atacante entrou muito mal e reconheceu isso nas entrevistas pós-jogo. A expulsão de Gabriel aos 33 minutos da etapa final aumentou a confiança do adversário, que passou a criar oportunidades.

Já nos minutos finais, Daniel se atirou junto ao poste para evitar a derrota no tempo normal. Diferente da ida em Arequipa, o time não melhorou com um homem a menos. Mesmo com espaços para contra-atacar, faltou tranquilidade para executar as jogadas.

Na decisão por pênaltis veio o balde de água fria. O Inter teve a cabeça quente e o coração frio. Edenilson, Taison e De Pena desperdiçaram as primeiras cobranças e murcharam o estádio. O rival marcou duas vezes e na outra parou em Daniel. Pedro Henrique encurtou a diferença, mas foi insuficiente para evitar o fracasso.

Choro no vestiário e explicações

O ambiente pós-jogo foi de abatimento e profunda tristeza. O ge ouviu relatos de jogadores que não contiveram a emoção e choraram no vestiário depois da eliminação. Daniel, Johnny e Mauricio estão entre os que mais sentiram a derrota. Mesmo abatido, Vitão deu início a uma tentativa de remobilização.

Os experientes Gabriel Mercado e Carlos de Pena passaram cabisbaixos pela zona mista e não quiseram conceder entrevista. Reservas sequer foram abordados. Mikael, o estreante da noite, passou despercebido. Pedro Henrique falou rapidamente. Os capitães Edenilson e Taison deram a cara à tapa.

- Torcedor tem o direito dele. Hoje, sei que não joguei muito bem. Sei da minha capacidade. Já fui bom, já fui ruim. Eles têm o direito de criticar e eu de aceitar. Perdemos nos pênaltis. Errei minha cobrança. Temos que assumir, sei que errei. É dar a volta por cima. Sei que minha atuação foi muito abaixo do que posso demonstrar. Estamos eliminados, sentimos isso - disse o meia-atacante Taison.

- A torcida cobra, torcedor tem essa razão. A gente sempre pede que a cobrança seja pacífica, que não agrida o patrimônio do clube. Não me sinto perseguido, se sou cobrado é porque demonstrei algo que o torcedor se identificou e viu potencial para que eu pudesse decidir as coisas, ajudar a conquistar campeonatos. Não consegui ainda infelizmente, estou aqui para ser cobrado, espero que deem um voto de confiança ao grupo, que é novo. Eu estou aqui para ser cobrado - desabafou Edenilson

Torcedor elege culpados

O entorno do Beira-Rio borbulhava três horas antes do início do jogo. Torcedores circulavam de um lado para o outro na expectativa de uma simples vitória para avançar de fase e seguir na luta pelo bicampeonato. O semblante daqueles que circulavam pelo estádio era de confiança.

Um corredor se formou para recepcionar o ônibus da delegação. Sempre um momento marcante em jogos desta dimensão. Os cânticos iniciaram fora e se estenderam para dentro do Gigante. No anúncio da escalação, todos os titulares foram aplaudidos.

O apoio incondicional dos 43.191 presentes se estendeu até o início da decisão por pênaltis. A paciência da massa terminaria ali. Os erros em sequência nos tiros da cal aniquilaram com tudo. Muitos foram embora antes da cobrança derradeira de Iberico. Os que permaneceram sentiram a dor de um novo vexame.

A resposta imediata foi apontar responsáveis. O presidente Alessandro Barcellos, Edenilson e Taison receberam xingamentos de todos os lados. O volante foi ofendido e chamado de “pipoqueiro”, enquanto o meia-atacante foi intitulado de “chinelinho” e “mercenário”.

Passados alguns minutos do apito final, um grupo se reuniu no prédio-garagem para protestar e esperar pelos jogadores. O zagueiro Vitão deixou a zona mista em meio a uma entrevista, quando soube que seus familiares estavam sendo ameaçados. O jovem defensor quase partiu para as vias de fato no pátio do estádio.

O terceiro grande fracasso do Inter no ano gerou frustração em colorados que iniciaram o dia confiantes em um caminho possível de título. Resta mais uma vez recomeçar a perseguição por uma taça.

O Inter volta a jogar no domingo, contra o Fluminense, no Beira-Rio, às 19h. Com 33 pontos, é o sexto colocado do Brasileirão.

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