Tema começou a ser debatido após Data Fifa de novembro com jogos de março como ultimato. Distanciamento por eleição foi parte da condução até a tomada de decisão
Rio de Janeiro - A anatomia de uma queda que começou a ser discutida após a Data Fifa de novembro e executada com quatro meses depois.
Não era de agora que a performance da seleção brasileira sob o comando de Dorival Júnior incomodava Ednaldo Rodrigues. O distanciamento físico, aliado ao sofrimento para vencer a Colômbia e a goleada para a Argentina formaram a senha para transformar em decisão um desejo de troca amadurecido entre contatos com substitutos e debates nos corredores da CBF.
Antes mesmo dos jogos de março, a diretoria já tinha feito chegar aos ouvidos de Carlo Ancelotti o desejo permanente de tê-lo no comando do Brasil, bem como a consulta sobre a viabilidade de Jorge Jesus ser uma opção mais palpável. A eleição para presidente no próximo quadriênio marcada para a véspera do jogo com a Argentina facilitou o afastamento de Ednaldo Rodrigues da rotina de uma Data Fifa em que já era sabido que teria cara de ultimato para Dorival Júnior e a comissão técnica.
O ambiente de pressão e tensão foi perceptível no dia a dia em Brasília e ausência do mandatário interpretada como um sinal de que só resultados e atuações muito convincentes demoveriam a diretoria do cenário de mudança. A projeção da comissão técnica era de quatro pontos, o que poderia atenuar os impactos em caso de empate na Argentina, mas não estancar definitivamente a ideia. A reação ao jogo ruim contra os colombianos já tinha causado danos.
Ednaldo Rodrigues chegou ao Distrito Federal somente no dia da vitória sobre a Colômbia e na véspera da derrota para a Argentina. Dorival Júnior fez questão de declarar em entrevista coletiva que o presidente ofereceu toda estrutura necessária para o trabalho, mas o contato era distante e o vestiário após o 4 a 1 já indicava o fim de uma relação com poucas palavras e nada que indicasse respaldo dali em diante.
A surpresa, no entanto, foi o descolamento feito por Ednaldo da comissão técnica do restante do departamento de seleções masculinas. Internamente, a expectativa era de que todos fossem destituídos do cargo, principalmente pelo presidente centralizar a decisão sem consultar ou comunicar antecipadamente ao diretor Rodrigo Caetano, que também não participou dos contatos iniciais com Carlo Ancelotti ou da negociação direta por Jorge Jesus.
Na véspera da reunião que decretou a demissão de Dorival, um episódio já indicava que a decisão não seria tão radical: a confirmação da viagem do gerente Cícero Souza para Colômbia, onde se junta a Branco na gestão do ambiente da Seleção Sub-17 que iniciou com empate por 1 a 1 com o Uruguai, sexta-feira, a participação no Sul-Americano. Não faria sentido a viagem de um profissional se fosse para demiti-lo no dia seguinte.
A escolha do presidente foi trocar apenas quem chegou pelas mãos de Dorival, com exceção do coordenador técnico Juan, indicação do treinador e que permaneceu. Além da comissão técnica de campo, com Lucas Silvestre (auxiliar), Pedro Sotero (auxiliar) e Celso Rezende (preparador físico), o supervisor Sérgio Dimas, que trabalhou com o treinador no Ceará, se despediu.
A saída imediata de Dorival indica ainda que a CBF trabalhará para encontrar uma solução que esteja disponível já na Data Fifa de junho, abrindo mais uma vez o caminho para Jorge Jesus. O treinador admite abrir mão da disputa do Mundial de Clubes com o Al Hilal, mas faz questão de comandar o time árabe na fase final da Champions Asiática, entre 25 de abril e 3 de maio.
É nesta configuração que o Brasil buscará o seu novo técnico para garantir um lugar na Copa de 2026 e organizar a casa por um caminho mais esperançoso até o hexa.