OUTRAS NACIONAIS

Agora no Flamengo, Tite também assumiu a Seleção a 12 jogos do fim e teve 88% de aproveitamento

Agora no Flamengo, Tite também assumiu a Seleção a 12 jogos do fim e teve 88% de aproveitamento

Não havia título, mas a resposta dada pelo gaúcho com primeira colocação das eliminatórias e 10 pontos de vantagem em relação ao vice-líder encheram de esperança o torcedor brasileiro

Rio de Janeiro - A Amarelinha deu lugar ao vermelho e preto. Os contextos são diferentes, mas os rubro-negros mais otimistas têm números para se apegarem e acreditarem no improvável eneacampeonato brasileiro. Em 2016, quando assumiu a Seleção, Tite também tinha pela frente um time em baixa e exatos 12 jogos para o fim de uma competição. No caso, as eliminatórias sul-americanas.

Dunga tinha sido demitido após vencer apenas dois dos seis primeiros jogos. Tite recebeu o Brasil com nove pontos (quatro atrás dos líderes Uruguai e Equador) e na sexta colocação, fora até mesmo da repescagem. Obviamente havia tempo para se classificar, já que as eliminatórias têm 20 rodadas a menos em relação ao Brasileiro.

Tite atropela rivais

Nas eliminatórias, Tite venceu todos os adversários que enfrentou e não tomou conhecimento dos eternos rivais Argentina e Uruguai. O impacto positivo de sua chegada já foi sentido desde o primeiro jogo, em uma estreia para lá de “pedreira” na época.

Antes, é preciso contextualizar. Além da Seleção estar em baixa na ocasião, o Brasil iria enfrentar o Equador, que na época liderava as eliminatórias ao lado do Uruguai, em um estádio quase lotado e com a temida altitude que sempre assusta os brasileiros. E ainda com um tabu pela frente de não ganhar dos equatorianos fora de casa há 33 anos.

Enquanto muitos times geralmente optam por viajar para as área de altitude no dia do jogo, como forma de minimizar os efeitos nos jogadores, o preparador físico de Tite, Fábio Mahseredjian, optou por uma aclimatação e viajou quatro dias antes para os 2.850m de Quito.

O técnico teve apenas três treinos para preparar a equipe para a estreia, mas foi mais que o suficiente: o Brasil se impôs e fez 3 a 0 com autoridade e um “futebol coletivo, firme defensivamente e de estímulo ao talento dos atacantes”, como diz um trecho da crônica do jogo do ge, escrita por Alexandre Lozetti e Edgard Maciel de Sá.

- Talvez eu não tenha tido tanto tempo, mas a nossa fala é muito intensa. Os trabalhos foram muito fortes e o desafio era grande. Precisávamos restabelecer um padrão de organização para fazer frente ao Equador fora de casa. (...) Fico feliz por essa química rápida com o grupo de trabalho. Aqueles que ficaram fora também. Ontem pedi desculpa aos atletas porque não dava para trabalhar com todos na parte tática, não tínhamos tempo. Quando acabou o treino, perguntei para os meus auxiliares como foi o outro trabalho e me disseram que tinha sido de uma qualidade danada - declarou Tite em entrevista coletiva após a partida.

Dali em diante, o Brasil sobrou. Foram nove vitórias seguidas, com direito a um 4 a 1 em cima do vice-líder Uruguai em Montevidéu e um 3 a 0 para cima da arquirrival Argentina no Mineirão. Até quando a equipe não tinha uma atuação brilhante costumava vencer, como nos 3 a 0 sobre o Chile no Allianz Parque. Os únicos “tropeços” aconteceram em dois empates fora de casa, contra Colômbia e Bolívia.

A Seleção terminou as eliminatórias como líder isolado com 41 pontos, 10 de diferença em relação ao Uruguai, segundo colocado. O treinador conseguiu números avassaladores: conquistou 32 pontos de 36 possíveis - 88,8% de aproveitamento -, e seu time marcou 30 gols e sofreu apenas três. Uma curiosidade: Rodrigo Caio, Filipe Luís e Gabigol, hoje no Flamengo, fizeram parte daquela campanha.

E se repetir o desempenho em 2023?

No primeiro contato com os jogadores do Flamengo na última terça-feira, Tite disse que o objetivo é chegar à Libertadores e que há uma possibilidade de ser campeão brasileiro. Se ele repetir o desempenho que teve com a Amarelinha, a chance de título começa a ser palpável.

Caso atinge o mesmo aproveitamento de 88,8% com o Flamengo, o Rubro-Negro terminará o campeonato com 76 pontos, com a vaga garantida na Libertadores. Para ser campeão, teria de torcer para o líder Botafogo fazer somente mais 20 pontos dos 36 em disputa.

O Flamengo ainda terá confrontos diretos por adversários que brigam por vaga na Libertadores e pelo título. Dos sete primeiros colocados, só não enfrenta o Botafogo, mas pega Bragantino, Palmeiras, Grêmio, Fortaleza e Fluminense.

Para tentar uma nova arrancada como aquela há sete anos, Tite precisará recuperar a organização e confiança do time. Com a pausa do calendário para a Data Fifa, o técnico terá ao todo nove treinos antes da estreia na quinta-feira da semana que vem, contra o Cruzeiro às 19h (de Brasília) no Mineirão.

- A primeira etapa da renovação mental e técnica de uma equipe é convencer os jogadores de que aquilo que é treinado servirá para fazê-los jogar bem, vencer, ter melhor desempenho. Se o time entrar em campo convicto do que foi a preparação - e os jogadores do Flamengo parecem bem questionadores, no mínimo, a considerar os últimos treinadores -, a performance tende a melhorar. Tite e sua comissão técnica são muito bons nesse convencimento, na arte de unir um grupo, criar uma harmonia - opinou Alexandre Lozetti, ex-setorista da Seleção e atualmente comentarista do Grupo Globo, antes de complementar:

- Foi assim na Seleção, em 2016, quando, em pouquíssimos treinamentos, ele mostrou aos atletas que era superior ao antecessor, nas ideias e na execução. O grupo de jogadores do Flamengo parece viciado numa forma de atuar e Tite, provavelmente, partirá deste princípio. Seu desafio é readaptar-se ao trabalho diário, mas parece muito mais fácil do que a adaptação à Seleção, quando, pela primeira vez na vida, precisou acostumar-se a jogar com tão poucos treinos e foi exitoso logo de cara.

Image
Image
logo ga nova22