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Falta “DNA”? O que Santos e Atlético-MG do Sampaoli tinham que o Flamengo não tem?

Falta “DNA”? O que Santos e Atlético-MG do Sampaoli tinham que o Flamengo não tem?

Em números, desempenho do técnico no Rubro-Negro é parecido com seus outros trabalhos no futebol brasileiro, mas argentino diz: “Estamos longe dos times que já tive e que pretendo”

Rio de Janeiro - Não consegui o que fiz nos outros times ainda ,colocar a maneira de sentir o futebol em um ano difícil do Flamengo. Chegamos aqui com um crise com muitas finais perdidas. Tentei implantar um DNA. Continua sendo minha responsabilidade. Sigo tentando até aqui. Estamos longe dos times que já tive e que pretendo.

A declaração é de Jorge Sampaoli em entrevista coletiva no último domingo, após a derrota do Flamengo para o São Paulo por 1 a 0 no Maracanã, no primeiro jogo da final da Copa do Brasil. Mas não é de agora que o técnico argentino admite não conseguir dar a “sua cara” ao time. No mês passado, por exemplo, após o empate em 1 a 1 com os reservas do São Paulo pelo Brasileiro, ele afirmou:

- Se você observar meus times anteriores, são totalmente diferentes. Há uma adaptação aos jogadores. (...) Minhas equipes têm um grau de intensidade, pressão e ataque muito altos. Há facetas que ainda não consegui.

O Flamengo é apenas o terceiro clube no Brasil que Sampaoli assumiu. Campeão da Copa América de 2015 com a seleção chilena e da Sul-Americana de 2011 com a Universidad de Chile, o treinador de 63 anos chegou ao futebol brasileiro já consagrado e dirigiu o Santos em 2019 e o Atlético-MG em 2020. E os números no Rubro-Negro são bem parecidos com seus trabalhos anteriores no país:

No Santos, Sampaoli teve 61,5% de aproveitamento em 65 jogos, com média de 1,58 gol pró e de 0,86 gol sofrido por jogo. No Atlético-MG, o rendimento foi de 64,4% em 45 partidas, com média de 1,77 gol feito e 1,08 gol tomado por partida. E no Flamengo, até agora são 37 duelos com 62,1% de aproveitamento e média de 1,70 gol pró e 1,08 gol contra por rodada.

Mas então por que Sampaoli balança no cargo? Enquanto no Santos o argentino foi vice-campeão brasileiro com a maior pontuação do clube desde o título de 2004, e no Atlético-MG foi campeão mineiro e disputou até o fim o título da Série A (terminou em terceiro), no Flamengo o trabalho é bastante questionado.

- São inúmeras as diferenças do Flamengo de Sampaoli para os trabalhos anteriores do técnico argentino aqui no Brasil. Desde a falta de imposição do time, passando pela desorganização, que leva à pouca intensidade e dificuldade para pressionar o adversário no campo de ataque. O Flamengo também é um time muito vulnerável defensivamente, mas essa é uma marca (negativa) já conhecida dos trabalhos de Sampaoli. Suas equipes normalmente têm uma média relativamente alta de gols sofridos - opinou Pedro Moreno, comentarista do Grupo Globo, complementando:

- Mas o que mais me chama a atenção é a falta de repertório ofensivo de um Flamengo com o elenco recheado de grandes jogadores. O Flamengo tem se mostrado um time engessado e previsível, muito distante das características do time vitorioso das últimas temporadas e das convicções do seu próprio treinador. É um time absolutamente sem identidade.

Para Henrique Fernandes, também comentarista do Grupo Globo, o elenco do Flamengo se encaixa com o DNA de Sampaoli, porém, a forma como o treinador se relaciona com os jogadores dificultou a implementação do modelo.

- Quando o Sampaoli fechou com o Flamengo, eu imaginei que o clube tinha encontrado o treinador certo pra si, porque algumas das ideias que ele aplicou muito bem no Atlético, se encaixam perfeitamente com o que o elenco do Flamengo oferece. A ideia de fazer um jogo de posse e volume (até para se defender com a bola), a possibilidade de utilizar todo um ótimo elenco do Flamengo (pra mim o melhor que o clube montou nos últimos anos) para escalar equipes de acordo com os adversários e, assim, manter sempre uma equipe fisicamente apta para fazer o jogo de pressão e intensidade que ele exige sem bola - disse antes de continuar:

- A questão é que para implantar seu modelo, Sampaoli precisa do choque, da competição interna, de treinamentos intensos, fortes, e ele é o tipo de treinador que não se preocupa tanto com as relações humanas no desenvolvimento do seu trabalho. Ele paga o preço de algumas insatisfações dos que não se adaptam ao modelo que deseja aplicar no time e não hesita em sacar jogadores, mesmo os que vinham bem sob o comando de outro treinador, ou que tenham uma posição de “hierarquia” alta dentro do elenco, ou prestígio junto a torcida.

Para Henrique, o temperamento de Sampaoli pode estar prejudicando sua relação com o elenco.

- A grande questão no Flamengo foi que um treinador tão exigente e rígido no seu modelo caiu em um elenco que só aceitou plenamente treinadores que evitaram esse tipo de confronto. O grupo não conseguiu, portanto, executar as ordens do treinador, a insatisfação foi aumentando e a relação de confiança entre o grupo e Sampaoli acabou quebrada. Se o jogador não acredita que vai vencer sob as ordens de um técnico, mesmo que ele seja titular absoluto, não vai entregar um rendimento consistente na maioria dos jogos. Eventualmente, o time consegue jogar bem porque, mesmo com todos os problemas, trabalha e a qualidade técnica resolve jogos, mas o time não conseguiu ser regular na aplicação das ideias do treinador em partidas consecutivas - encerrou.

O Flamengo volta a campo nesta quarta-feira, às 19h, contra o Goiás, em Goiânia, pelo Brasileiro. No domingo, faz o jogo de volta da final da Copa do Brasil contra o São Paulo, no Morumbi.

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